10 abril 2007

Orfeu e os mistérios de Dioniso 2



A Grécia pré-órfica - A Trácia - 2


A noroeste da Grécia existia a Trácia (actualmente dividida entre Grécia, Bulgária e Turquia desde 1919/1923), pais selvagem e rude de altas montanhas cobertas de carvalhos gigantes, varridas pelo vente do norte e frequentes trovoadas e chuvas torrenciais. Aí viviam os Dórios, raça guerreira (cujo modelo social foi mais tarde imitado por Esparta) de origem indo-europeia que acabaria por invadir toda a Grécia em 1200 a.C., substituindo nas cidades gregas a monarquia pela oligarquia e iniciando a época áurea da civilização dórica.

A Trácia foi sempre considerada pelos gregos como uma região santa, o país da luz espiritual e a verdadeira pátria das musas. Trácia, “Trakia”, tem origem etimológica na palavra fenícia “rakhiwa”, que significa espaço etéreo ou firmamento. No alto de suas montanhas existiam os mais velhos templos de Zeus, Crono, Urano. Aí tinham tido suas origens a poesia, as leis, as artes sacras, que a civilização ocidental deve à Grécia, pela mediação de Roma.

Segundo a antiga tradição trácia, a poesia foi inventada por Olen, palavra fenícia que significa o “ser universal”. Apolo tem a mesma raiz – Ap-Olen – e significa o “pai universal”. No inicio, a cidade de Delfos cultuava o ser universal sob o nome de Olen; o culto de Apolo veio depois, sob a influência da doutrina do verbo solar, vinda dos templos da Índia e do Egipto. Apolo, o pai universal, tinha dupla manifestação: a luz espiritual, hiperfísica, e a manifestação da estrela solar no céu. Porém, este culto era reservado aos iniciados, no templo de Delfos, e foi Orfeu que a desenvolveu nos mistérios dionisíacos e deu outra dimensão ao verbo solar de Apolo.

Para os maiores poetas, filósofos e grandes iniciados da Grécia, tais como Pindare, Ésquilo ou Platão, o nome da “Trácia” tinha uma forte simbólica e significava “o pais da doutrina pura e da poesia sagrada”, tendo um sentido filosófico e histórico: era uma região intelectual, o conjunto das doutrinas e das tradições segundo as quais o mundo é obra de uma inteligência divina; e também era a raça dórica, herdeira do antigo espírito ariano, a que a Grécia devia a doutrina e a poesia cultuadas no templo de Apolo em Delfos.

Os maiores poetas da época eram trácios: Thamyris, Linos ou Amphion inventaram a poesia cosmogónica, a poesia da doutrina solar (ou doutrina dórica mais ortodoxa e que influenciou as artes e toda a civilização helénica) e a poesia do culto lunar (mais emotiva, lacrimosa e voluptuosa). A poesia era então considerada a linguagem dos deuses, a consagrar uma teologia, cobrindo com o véu da alegoria os mistérios da natureza e os mais sublimes conceitos morais, só compreensíveis aos iniciados desses mistérios. Etimologicamente, “poesia” tem sua origem nas palavras fenícias “phohe” (voz) e “ish” (deus).

7 Comments:

Blogger Ana said...

Opa aqui também está de chuva.
Teve a minha pessoa com toda a paciencia e cuidado a esticar o cabelo pra depois apanhar uma molha jeitosa.
Pensando bem, acho que vou querer os caezinhos bonitos. Sempre me protegem de senhores de boné ao lado e calça larga. É que depois daquele post, a minha vida agora passou a ser uma eterna luta pela sobrevivencia.
Estou apavorada!

Quando eu estiver mais calminha, voltarei aqui pra ler esses textos dos mistérios de Dioniso que me estão a intrigar.

=**

10 abril, 2007 17:32  
Blogger Ana said...

Não Sr.!
Vou ler com certeza, fiquei fascinada com a parte em que ele foi dar um passeio ao inferno e voltou sem a cara metade.
Tenho é que primeiro ir comprar lenços, que já me estou a ver a chorar que nem desalmada.
Porque eu comovo.me por tudo e por nada.

=**

Agora aulinha de código. Isso sim, é que é uma verdadeira seca. Principalmente quando o instrutor se chama Mario Nelson.

10 abril, 2007 17:57  
Blogger Phiwuipa said...

Isto é um poço de cultura...
Para além de se ficar a conhecer poemas que em cada entre linha se "tira" algo, ficamos também a conhecer/saber algo sobre um outro assunto :)!

Tinhas de ser tu!! :)

*Beijinhos*

11 abril, 2007 09:38  
Blogger Ana said...

Ora portanto, eu li. De facto li.
Mas cheguei ao final e já não me lembrava do inicio =S

E olha que a ideia do boné de lado por causa dos cabelos, agradou.me!
Sim, Sr. isso é que é imagination!
Vou passar a adoptar o estilo em dias de chuva.

=**

11 abril, 2007 13:48  
Blogger Orfeu said...

pois, pois, chamem-lhe cultura (e poço? já têm vontade de me afogar e tudo??)... já vi é que vai tudo "bazar" do meu blog... e com sorte não me enviam uns virus para me desintegrarem da blogosfera...

11 abril, 2007 15:49  
Anonymous Anónimo said...

Eu sinceramente estou a gostar!
Conheço a "história" de Orfeu, porque me agrada muito isso dos deuses... mas desconhecia tudo isto.
E gostei muito de saber que poesia, é realmente a voz de Deus!
**BJS**

14 abril, 2007 12:28  
Blogger Orfeu said...

olá, H. :)
eu tinha esperança que uma alma generosa ia gostar de ler! lol
beijos

14 abril, 2007 18:51  

Enviar um comentário

<< Home