02 outubro 2009

O Vidente




"Virá o dia da felicidade
para todos." (Isaías)




Às vezes quando à tarde, nas tardes brasileiras,
A cisma e a sombra descem das altas cordilheiras;
Quando a viola acorda na choça o sertanejo
E a linda lavadeira cantando deixa o brejo,
E a noite - a freira santa - no órgão das florestas
Um salmo preludia nos troncos, nas giestas;
Se acaso solitário passo pelas picadas,
Que torcem-se escamosas nas lapas escarpadas,
Encosto sobre as pedras a minha carabina,
Junto a meu cão, que dorme nas sarças da colina,
E, como uma harpa eólia entregue ao tom dos ventos
- Estranhas melodias, estranhos pensamentos,
Vibram-me as cordas d'alma enquanto absorto cismo,
Senhor! vendo tua sombra curvada sobre o abismo,
Colher a prece alada, o canto que esvoaça
E a lágrima que orvalha o lírio da desgraça,
Então, num santo êxtase, escuto a terra e os céus.
E o vácuo se povoa de tua sombra, ó Deus!

Ouço o cantar dos astros no mar do firmamento;
No mar das matas virgens ouço o cantar do vento,
Aromas que s'elevam, raios de luz que descem,
Estrelas que despontam, gritos que se esvaecem,
Tudo me traz um canto de imensa poesia,
Como a primícia augusta da grande profecia;
Tudo me diz que o Eterno, na idade prometida,
Há de beijar na face a terra arrependida.
E, desse beijo santo, desse ósculo sublime
Que lava a iniqüidade, a escravidão e o crime,
Hão de nascer virentes nos campos das idades,
Amores, esperanças, glórias e liberdades!
Então, num santo êxtase, escuto a terra e os céus,
O vácuo se povoa de tua sombra, ó Deus!

E, ouvindo nos espaços as louras utopias
Do futuro cantarem as doses melodias,
Dos povos, das idades, a nova promissão...
Me arrasta ao infinito a águia da inspiração ...
Então me arrojo ousado das eras através,
Deixando estrelas, séculos, volverem-se a meus pés...
Porque em minh'alma sinto ferver enorme grito,
Ante o estupendo quadro das telas do infinito...
Que faz que, em santo êxtase, eu veja a terra e os céus,
E o vácuo povoado de tua sombra, ó Deus!

Eu vejo a erra livre... como outra Madalena,
Banhando a' fronte pura na viração serena,
Da urna do crepúsculo, verter nos céus azuis
Perfumes, luzes, preces, curvada aos pés da cruz...
No mundo - tenda imensa da humanidade inteira
Que o espaço tem por teto, o sol tem por lareira,
Feliz se aquece unida a universal família.
Oh! dia sacrossanto em que a justiça brilha,
Eu vejo em ti das ruínas vetustas do passado,
O velho sacerdote augusto e venerado
Colher a parasita - a santa flor - o culto,
Como o coral brilhante do mar na vasa oculto...
Não mais inunda o templo a vil superstição;
A fé - a pomba mística - e a águia da razão,
Unidas se levantam do vale escuro d'alma,
Ao ninho do infinito voando em noite calma.
Mudou-se o férreo cetro, esse aguilhão dos povos,
Na virga do profeta coberta de renovos.
E o velho cadafalso horrendo e corcovado,
Ao poste das idades por irrisão ligado
Parece embalde tenta cobrir com as mãos a fronte,
- Abutre que esqueceu que o sol vem no horizonte.
Vede: as crianças louras aprendem no Evangelho
A letra que comenta algum sublime velho,
Em toda a fronte há luzes, em todo o peito amores,
Em todo o céu estrelas, em todo o campo flores ...
E, enquanto, sob as vinhas, a ingênua camponesa
Enlaça às negras tranças a rosa da deveza;
Dos saaras africanos, dos gelos da Sibéria,

Do Cáucaso, dos campos dessa infeliz lbéria,
Dos mármores lascados da terra santa homérica,
Dos pampas, das savanas desta soberba América
Prorrompe o hino livre, o hino do trabalho!
E, ao canto dos obreiros, na orquestra audaz do malho,
O ruído se mistura da imprensa, das idéias,
Todos da liberdade forjando as epopéias,
Todos co'as mãos calosas, todos banhando a fronte
Ao sol da independência que irrompe no horizonte.

Oh! escutai! ao longe vago rumor se eleva
Como o trovão que ouviu-se quando na escura treva,
O braço onipotente rolou Satã maldito.
É outro condenado ao raio do infinito,
É o retumbar por terra desses impuros paços,
Desses serralhos negros, desses Egeus devassos,
Saturnos de granito, feitos de sangue e ossos...
Que bebem a existência do povo nos destroços ...

Enfim a terra é livre! Enfim lá do Calvário
A águia da liberdade, no imenso itinerário,
Voa do Calpe brusco às cordilheiras grandes,
Das cristas do Himalaia aos píncaros dos Andes!
Quebraram-se as cadeias, é livre a terra inteira,
A humanidade marcha com a Bíblia por bandeira-.
São livres os escravos... quero empunhar a lira,
Quero que est'alma ardente um canto audaz desfira,
Quero enlaçar meu hino aos murmúrios dos ventos,
Às harpas das estrelas, ao mar, aos elementos!

Mas, ai! longos gemidos de míseros cativos,
Tinidos de mil ferros, soluços convulsivos,
Vêm-me bradar nas sombras, como fatal vedeta:
"Que pensas, moço triste? Que sonhas tu, poeta?"
Então curvo a cabeça de raios carregada,
E, atando brônzea corda à lira amargurada,
O canto de agonia arrojo à terra, aos céus,
E ao vácuo povoado de tua sombra, ó Deus!



"O Vidente" (Os Escravos) - Castro Alves

01 julho 2008

Hoje é(s) presente (meu)


So every time you hold me
Hold me like this is the last time
Every time you kiss me
Kiss me like you’ll never see me again
Every time you touch me
Touch me like this is the last time

Promise that you’ll love me
Love me like you’ll never see me again



How many really know what love is?
Millions never will
Do you know until you lose it
That it’s everything that we are looking for

When I wake up in the morning
You’re beside me

I’m so thankful that I found
Everything that I´ve been looking for

I don’t wanna forget the present is a gift

*

(Alicia Keys - Like You'll Never See Me Again)



11 junho 2008

Amanhã bem cedinho...

Porque a beleza da vida é feita de momentos espontâneos, de muita múisca e dansa, de cumplicidade e amizade, e de amor, mesmo quando este nos arrebata, emudece e derruba de tanta emoção!

Para todos os apaixonados pela vida e pelo amor.

Para a minha esposa amada que chegou amanhã de manhã, bem cedinho...


05 junho 2008

A outra parte de mim

Este cântico de Lara para ti,
Esposa d´alma querida
Qu´és a outra parte de mim,
Minh´amada Angélica da Laguna.







Âme ou soeur,
Jumeau ou frère de rien,
mais qui es tu?
Tu es mon plus grand mystère,
Mon seul lien contigü,
Tu m'enrubannes et m'embryonnes,
Et tu me gardes à vue.
Tu es le seul animal
De mon arche perdue.

Tu ne parles qu'une langue,
Aucun mot déçu,
Celle qui fait de toi mon autre,
L'être reconnu.
Il n'y a rien à comprendre
Et que passe l'intrus,
Qui n'en pourra rien attendre,
Car je suis seule à les entendre les silences
Et quand j'en tremble...

Toi, tu es mon autre:
La force de ma foi,
Ma faiblesse et ma loi,
Mon insolence et mon droit.
Moi, je suis ton autre:
Si nous n'étions pas d'ici,
Nous serions l'infini.


Et si l'un de nous deux tombe,
L'arbre de nos vies
Nous gardera loin de l'ombre,
Entre ciel et fruit,
Mais jamais trop loin de l'autre -
Nous serions maudits! -
Tu seras ma dernière seconde,
Car je suis seule à les entendre les silences
Et quand j'en tremble...

Toi, tu es mon autre:
La force de ma foi,
Ma faiblesse et ma loi,
Mon insolence et mon droit.
Moi, je suis ton autre:
Si nous n'étions pas d'ici,
Nous serions l'infini.


Et si l'un de nous deux tombe
...

09 outubro 2007

Rapunzel da Laguna



Acendi ao Negrinho do Pastoreio
A minha vela, perdido na solidão…
E do céu a Estrela do Pastor veio…
E sorriu p´ra mim, lá do Saco de Carvão

Velando teu sono, o Cruzeiro do Sul,
Enquanto a Estrela Polar, p´ra cá do mar,
Deste lado do imenso abraço azul,
Guiava meus sonhos d´eterno navegar…

O Negrinho é afilhado da Virgem,
E p´lo Guri, p´la madrinha auxiliado,
O que se perde, aqui nesta romagem,
O que se desperdiça, é encontrado…

Meu grande amor, minha linda bailarina,
Noutra vida, noutro horizonte, sumiu…
Eu, nesta, peregrinei na triste sina
Da noite órfã de lua que outrora luziu…

Um dia, o Negrinho achou-te p´ra mim,
Ou achou-me p´ra ti – quem, perdido, estava?
Semeou nossos caminhos com gergelim,
E naquela manhã, quem p´ra mim olhava

Eras tu, ali no meio da multidão,
D´olhos tímidos, tão cheios d´esperança!
Neles, tive meu baptismo de imensidão
E, de novo, eu sou gulosa criança!

É do favo de mel, de ímpar cor de âmbar…
É do cacau, aveludado de avelã…
E é da paçoca, morena d´além-mar…
Essa cor doce e profunda d´Alma-irmã,

Que fluí, cheia, imensa, do teu olhar,
E sonha, em frente ao Mar do velho mundo
De poeira seca e d´estreito navegar,
Resgatar do além o amor naufragado...

Néctar de vida mil vezes renascido,
P´la íris teu coração espreita, exposto,
E saboreio-lhe o brilho quente, vertido
P´los cremosos sóis qu´iluminam teu rosto…

Clara candeia da pauta do meu canto,
Dessas duas escuras maças gostosas
Doas-me a luz pura, num suco secreto
E polvilhado d´esperanças formosas,

E do meu destino, com sábio pincel,
A tela renovas em sublime lavor,
Quando p´la tua longa trança, Rapunzel,
Subo à janela do recíproco Amor…

O teu riso é orvalho que me faz sonhar
Com este Mar terreno, maravilhado
Pelos caminhos ainda por navegar,
Ao descobrir beleza no velho mundo…


(DV – 9 de Outubro de 2007)



io ti aspettavo qui, dolce amore di mia vita!

07 outubro 2007

Cuidar do meu jardim



Quando depositamos
muita confiança
ou expectativas
em uma pessoa,
o risco de se decepcionar
é grande.

As pessoas
não estão neste mundo para
satisfazer as nossas expectativas,
assim como não estamos aqui para
satisfazer as dela.
Temos que nos bastar...
nos bastar sempre
e quando procuramos estar com alguém,
temos que nos conscientizar
de que estamos juntos porque gostamos,
porque queremos e nos sentimos bem,
nunca por precisar de alguém.

As pessoas não se precisam,
elas se completam...
não por serem metades,
mas por serem inteiras,
dispostas a dividir
objetivos comuns,
alegrias
e vida.

Com o tempo,
você vai percebendo
que para ser feliz com a outra pessoa,
você precisa em primeiro lugar, não precisar dela.

Percebe também que aquela pessoa que você ama
(ou acha que ama) e que não quer nada com você,
definitivamente, não é o homem ou a mulher de sua vida.

Você aprende a gostar de você,
a cuidar de você,
e principalmente
a gostar de quem gosta de você.

O segredo é não cuidar das borboletas
e sim cuidar do jardim para que elas venham até você.

No final das contas,
você vai achar
não quem você estava procurando,
mas quem estava procurando por você!

(Mario Quintana)

03 outubro 2007

Sai poema em breve...

... para a minha Rapunzel querida :)
Favor não desconcentrarem o autor apaixonado!