20 abril 2007

Teimosia de ser Essência


Teima em mim, peregrina mensageira,
Entre a suspeita e a certeza,
Melancólica lembrança da essência verdadeira
De cada um de nos, sua mais secreta tristeza.

Do perfeito amor a humana carência
Une-se a cruel proibição de ser.
Não somos amados quando só doamos aparência,
Nem amamos sem o íntimo alheio conhecer.

Tão imatura incoerência revelamos
Ao esconder, representando, nossa fraqueza
E cobrar, intolerantes, de quem idealizamos!
O amor não abençoa a desconfiada defesa...

Desistimos da nossa própria realização,
Renunciamos a conquistar o mérito
Da felicidade, cremos deitar-lhe mão
Através da paixão, adquirimos a crédito...

O cego encanto pela lenda da cara-metade,
Pela idealizada alheia perfeição, é inconsciente e ilusório
Preenchimento em nós da desejada qualidade
Cuja ausência nos fere o amor-próprio...

Quem de si não gosta, finge ser
O alheio ideal, esconde seu espontâneo sentir,
Mas, por fim, do tão comum e falso parecer
Inseparável é o insaciável e doentio exigir...

Pressinto em cada tentadora ilusão
Do efémero mundo das formas e da incerteza
Aguardada desistência, desalentada frustração
De granjear luz, conquistar angélica nobreza.

Paixão sem amor é futura e farta colheita
Do carma solitário, da afectiva ausência,
Onde a capa do parecer esbarra na porta estreita,
Só passa quem dignifica sua verdadeira essência.

Se caio, logo me levanto, insisto
Neste incessante despertar e crescer
Da centelha divina que sou, existo
P'ra me revelar e conhecer.

Quem partilhara o desejo da ignorada liberdade
De caminharmos juntos, afins e serenos,
Fiéis à confiança e à verdade,
A transpor trincheiras e véus terrenos?

Sei que existes, incentivando minha teimosia
Em te reencontrar, entre brumas e nevoeiros,
Partilhando comigo tua estrela-guia
A nortear para a Luz nossos passos herdeiros.

Desistir, longe de ti, em braços estranhos
Seria solitária agonia, mais tormentosa
Do que na Terra esgotar meus caminhos
Sem me clarear tua chama formosa!

Tuas palavras em mim libertaram
Adormecidas memórias de vidas passadas,
Ecos das lições que nos ensinaram
Amor e sabedoria, intuições acertadas.

Tudo existe belo, puro, perfeito,
Para nos amparar e servir na jornada divina,
Apenas nos escraviza o mau uso do direito
De sentir, saborear, aproveitar a beleza da Vida.

Amor é doação da liberdade de ser,
Na partilha do próprio esforço pessoal,
No trilho da perfeição que nos cumpre percorrer,
No amparo mútuo, sob a luz do comum ideal!

Amor é profética e saudosa compreensão,
É mútua confiança – e confiar é ser,
Verdadeiro, sem importar toda a deserção,
Pois revela, afim, sentimento e comunhão p'ra valer!

DV (2004 - em memoria de Osho-bhai)

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Amor... Eu já nem sei o que isso é!! mas enfim...a vida é mesmo assim!
Bem, desejo-te um óptimo fim de semana, aproveita-o bem!
Beijinhos

20 abril, 2007 23:09  
Blogger Páginas Soltas said...

Descobri o seu Blog...na visita a outro.
Mas que bela surpresa...
Um " canto para me deliciar com a mais bela poesia!

Vou colocar o seu link...para ser mais fácil a minha vinda aqui!

Ainda vou ler mais uma vez, este poderoso poema!

Beijinhos da

Maria

21 abril, 2007 13:43  
Blogger Ana said...

Uffa! Deu trabalhinho mas já esta.
Acabei agora mesmo de publicar os nomeados para Thinking Blogger.

Beijinhos

21 abril, 2007 15:04  
Anonymous Anónimo said...

Passei para te deixar um beijo e desejar-te uma boa semana!!

22 abril, 2007 11:39  
Blogger Teresa Fernandes said...

Passei aqui para ver se tinha post novo...como não tem :(...
desejo uma boa semana!
Beijinhos esvoaçantes
Mystic

24 abril, 2007 10:54  
Blogger Ana said...

hehehe!
O fulano que disse aquilo, na verdade, é uma fulana de, mais ou menos, 65 anos =P

beijinhos!

24 abril, 2007 19:39  

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