Responsabilidade no amor

"Tornas-te eternamente responsável
por aquele que cativas."
(Saint-Exupéry)
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Hoje fiquei a pensar nisto...
O que significa esta responsabilidade?

Temos que ser verdadeiros, inteiros numa total entrega, nos nossos afectos, em especial quando de amor se trata... Duas aparências, mesmo que para agradar a quem amamos, não fazem um grande amor: é preciso termos a coragem de "ser"... de partilharmos o que realmente somos, com a coragem de nos melhorarmos para ser dignos desse amor, num constante apurar do sentimento... Se tivermos receio de, ao nos mostrarmos, desagradarmos, então, desde o início, fechamos a porta ao amor...

Todos nós nascemos para amar, esperamos a pessoa certa, aquela a quem queremos dar a mão, com total confiança, aquela com quem queremos partilhar o que de bom e menos bom nos vai na alma, aquela parte mais secreta e valiosa que guardamos para a pessoa que nos vai compreender e incentivar a nos tornarmos melhores...

Quando alguém nos cativa, passamos a acordar e deixar pulsar em liberdade e plenitude o que de mais verdadeiro há escondido em nós: os nossos sonhos e ideias, nossos mais nobres valores perante a vida!

Se nós cativamos alguém, passamos a ser responsáveis pela harmonia do universo, porque há um sábio equilibrio que interliga todos os seres: passamos a ser responsáveis para com o universo pela sua parte de harmonia e plenitude que está agora desperta naquele ser que cativamos...

Tudo se passa como se, ao renascermos na Terra, se tivesse dado uma separação temporária...

Nós não fugimos da solidão, porque ninguém está realmente só: as almas afins se atraem e unem seus pensamentos, irradiam unidas em cada segundo... mesmo que, centrados em nossos corpos efemeros, estejamos afastados por centenas ou milhares de quilómetros... mesmo que nossos olhos não o consigam notar... mas o elo que levou milhares, milhões de anos a se tecer, pela afinidade dos corações, esse elo é inquebrável, de uma perfeita elasticidade...

É esse elo que nos atrai ao primeiro olhar, ao primeiro sorriso, numa frase ou palavra, num gesto singular ou numa maneira especial de estar na vida... é esse elo que faz bater nosso coração de maneira especial por alguém que achamos que ainda nem conheciamos até ontem... mas na verdade, é apenas o reencontro...

Então, porque somos responsáveis por aqueles que cativamos?

Somos responsáveis porque nenhum desses elos se pode imitar ou falsificar, fazem parte de nós, da essência que gastamos milénios a aperfeiçoar em nós: é pelo amor que o universo inteiro está interligado...

E quando um elo é forjado, não mais pode ser desligado: as duas almas que se interligaram passam a ser responsáveis uma pela outra...

Pode uma querer se desligar da outra, e até conseguirá fazê-lo no plano físico, mas não no plano espiritual que é o plano da essência verdadeira de todas as coisas e seres do universo... e então tudo passa a ser como se cada um tentasse viver com parte apenas de si mesmo, de sua essência...

Na verdade, se uma alma que cativamos, e que está ligada a nós por esse elo, passa a ser obrigada a pulsar no universo sem uma parte de si mesma, por nossa causa, então somos também nós que deixamos de ser seres plenos e realizados...

Porque nós somos os responsaveis pela parte de harmonia no universo que nos cabe a nós cuidar, não largando a mão daquele ser especial e ligado a nós que um dia quisemos e conseguimos cativar...

É esse o elo que liga e prende sabiamente Orfeu e Eurydice...