30 março 2007

A Forja


Alguns sonhos, perfeitos, são nascidos no Céu,
Antes de voltarmos a esta grande e vã ilusão,
E trazemo-los em estrelas no brilho do olhar,
Em desejos de eternidade e de infinito...
-
Não cabem no horizonte de nosso hoje,
Limitado a curtas horas, duas dúzias de cada vez,
Nem se valem de asas pequeninas, tão desajeitadas,
De ainda simples seres humanos, crianças...
-
Aqui, grandes amores passam pela forja da sublimação,
Fortalecem-se na teimosa resistência ao tempo,
E curam-se do egoismo e do sentimento de posse,
Na distância do abraço carinhoso e ímpar...
-
Desfocada em lágrimas solitárias, é a nossa visão
Privada da genuina alegria do rosto amado,
Orfã do sorriso que lhe é mais querido,
E cega sem a luz do olhar de quem nos ama ...
-
(DV)

21 março 2007

O Anjo da poesia


Se no sexto dia foi o homem
Feito à sua imagem de luz,
Ele ou Ela, Deus ou Deusa por quem
Tudo é harmonia e seduz
-
Os poetas, bem como as crianças,
E tudo pulsa em sábio plano
Que nos guia sem quaisquer tardanças,
Quem sabe que este dia do ano
-
Festeja o Anjo da poesia,
Que foi criado logo o primeiro,
Na aurora do primeiro dia,
Para inspiração do Obreiro,
-
Do Arquitecto de toda a Vida?!
Hoje, perante nossa cegueira,
Magoas e revolta sentida,
Ele é revelação verdadeira,
-
Da beleza e sabedoria,
É quem inspira, levantando o véu,
A visão da pura harmonia
Que nos guia a caminho do Céu.
-
(DV)
-
-
Não sei se o tal anjo me inspirou ou não, mas aqui fica, neste Dia Internacional da Poesia (que também é o início da primavera), a minha homenagem à essência poética de todo este universo que a Vida nos oferece eternamente :)

Oração Celta 1


Que jamais, em tempo algum,
o teu coração acalente ódio.
Que o canto da maturidade
jamais asfixie a tua criança interior.
Que o teu sorriso seja sempre verdadeiro.
Que as perdas do teu caminho
sejam sempre encaradas como lições de vida.
Que a música seja tua companheira
de momentos secretos contigo mesmo.
Que os teus momentos de amor
contenham a magia de tua alma eterna em cada beijo.
Que os teus olhos sejam dois sóis
olhando a luz da vida em cada amanhecer.
Que cada dia seja um novo recomeço,
onde tua alma dance na luz.
Que em cada passo teu fiquem marcas luminosas
de tua passagem em cada coração.
Que em cada amigo o teu coração faça festa,
que celebre o canto da amizade profunda
que liga as almas afins.
Que em teus momentos de solidão e cansaço,
esteja sempre presente em teu coração
a lembrança de que tudo passa e se transforma,
quando a alma é grande e generosa.
Que o teu coração voe contente
nas asas da espiritualidade consciente,
para que tu percebas a ternura invisível,
tocando o centro do teu ser eterno.
Que um suave acalento te acompanhe,
na terra ou no espaço, e por onde quer
que o imanente invisível leve o teu viver.
Que o teu coração sinta a presença secreta do inefável!
Que os teus pensamentos e os teus amores,
o teu viver e a tua passagem pela vida,
sejam sempre abençoados
por aquele amor que ama sem nome.
Aquele amor que não se explica, só se sente.
Que esse amor seja o teu acalento secreto,
viajando eternamente no centro do teu ser.
Que este amor transforme os teus dramas em luz,
a tua tristeza em celebração,
os teus passos cansados
em alegres passos de dança renovadora.
Que jamais, em tempo algum,
tu esqueças da Presença que está em ti
e em todos os seres.
Que o teu viver seja pleno de Paz e Luz!

20 março 2007

E ainda tanto por aprender!


"Não confundas o amor com o delírio da posse,
que acarreta os piores sofrimentos.
Porque, contrariamente à opinião comum,
o amor não faz sofrer.
-
O instinto de propriedade,
que é o contrário do amor,
esse é que faz sofrer.
(...)
-
Eu sei assim reconhecer
aquele que ama verdadeiramente:
é que ele não pode ser prejudicado.
-
O amor verdadeiro começa lá
onde não se espera mais nada em troca. "
-
(Antoine de Saint-Exupéry, in 'Cidadela')
-
-
Quero amar-te assim, Alma querida, para que sejas sempre feliz e que o teu coração seja livre de voar no infinito azul da alegria e voltar eternamente apaixonado para junto de mim...

19 março 2007

Prata Serena


Revestido de ouro se vangloria o Astro Rei,
E a Humanidade, por contágio da mesma folia,
Com falsas aparências ensurdece a luz do dia,
No bulício sem rumo de um desespero sem lei.

Que orgulho vão é a geral humana encenação
Revela-o as cintilações das estrelas distantes...
Hoje muitas são sóis extintos ou agonizantes,
Destino do nosso Astro Rei, cinzas sobr´azulão!

Prefiro o bálsamo de serena prata da irmã Lua!
Amiga generosa e leal, apazigua a noite, sorrindo,
Enquanto embala quem a despreza, dormindo!
Eu gosto de vigiar, na nocturna calmaria da rua,

Sentado no terraço, perscrutando da eternidade
Os divinos mistérios, d´Alma saudando, agradecido,
A diamantada melodia de luz a relembrar o esquecido
E a me refrescar a compreensão sedenta da verdade!

E se vagueia a Platina Aliada na imensidade celeste,
Não será com certeza por abandono, fútil e desleal,
Mas a pedido, pesquisando na imensidade do Astral,
Ora redonda, alegre a Ocidente, ora esguia, séria a Leste,

Fraterna Guia por entre brumas, neblina e nevoeiro,
Magnetismo lunar, Fada de serena prata te resgatando,
Para o eterno Éden perdido teu regresso apressando...
Voa, pois! Segue e agarra o luar! É teu sábio timoneiro!

(DV)

Canção do Bhául


Teus caminhos, senhor,
teus caminhos de amor,
perdidos,
oculta-os a Mesquita,
a cobiça infinita
da Igreja,
do Pagode...
Aos meus ouvidos
vibrou, há muito já, o Teu apelo,
e a minha alma deseja,
mas não pode,
recolhê-lo...
No início das Idades,
a Natureza
aceitou e guardou teu mandamento
no coração.
Só o homem enjeitou o inestimável dote
só ele lhe negou a alma p´ra retiro,
e cometeu-o ao papiro,
ao livro, ao sacerdote!...

E Tu ainda lhe bates com frequência
à porta da consciência.
Tu mandas-lhes profetas, avatares,
com tuas mensagens salutares,
num grandioso exemplo
de paciência!
Mas eles, em resposta,
encerram-Te num templo!
Sob as grandes arcadas
Te procuro,
nas catedrais:
claustros silenciosos,
naves abobadadas
e colossais,
da alva Mesquita ao hipogeu escuro,
percorrem tudo, aos rastos, meus joelhos
pressurosos.

Mil vezes invoquei Teu nome puro!
Mil vezes Te chamei «Senhor, Senhor»!
Mas sempre em vão!
Folhas dos Vedas, citas dos Evangelhos,
versículos da Biblia e do Corão
foi o que vi,
mas nada disso mata a sede ardente
da minha alma por ti!

O Mundo é o melhor Veda,
Biblia maior que a Biblia é a criação.
O brâmane segreda
as mantras mansamente,
mas o Livro da Vida está aberto por Tua mão:
deste-o Tu a ler a toda a gente...

P´ra que irmos a Meca ou Benares?
Acaso quando estás num santuário,
é por faltares
no Universo inteiro
aos outros meus irmãos?
Acaso as proporções dum relicário
podem conter a Tua astral grandeza?
P´ra quê erguer-Te templos, se o primeiro,
se o mais extraordinário,
é o templo, sem par, da Natureza,
uma obra das Tuas mãos?

Nesse Templo admirável,
milhões
volvem para Ti seus tristes corações...
O espectro execrável
do Ulama ou do Guru
escava abismos mil, mil divisões
entre os irmãos.

Mas eles, grade a grade,entre as prisões,
dão-se as mãos:
o seu ideal és Tu!
Atende, pois, Senhor, o seu suspiro.
Transforma este retiro
desolador
num reino de Alegria
e de Amor!
Que, no livro da História,
as Tuas graças,
chovendo qual dilúvio varredor,
apaguem para sempre a divisória
das seitas, das nações, línguas e raças!

Que se sinta embalada a Humanidade
suavemente,
no rítmo astral da eterna sinfonia
da Tua glória.
Nesse dia,
em porvindouras eras
verás, por fim, o Prometeu rebelde
acompanhando, humilde, reverente,

Tua batuta mestra,
na Orquestra
das Esferas!

(Adeodato Barreto - 1932)
-
-
Bhául, termo sânscrito, significa o «excêntrico», aquele que não se conforma aos usos sociais.
-
Este é um poema de um autor pouco conhecido, mas que dedicou sua vida, em Portugal, aos mais desfavorecidos, à semelhança de Bento Jesus Caraça, embora tendo ficado ele pouco conhecido... Mas já que está na moda falar dos "grandes portugueses", aqui deixo a minha homenagem a uma grande alma que por este nosso Portugal passou.
-
De nada nos vale ir deixar nossas preces em Templos se o nosso coração, o único Templo onde Deus quer lhe façamos um lugar, ainda está fechado para nossos semelhantes...
-

"P´ra quê erguer-Te templos,
Se o primeiro,
Se o mais extraordinário,
É o templo, sem par,
Da Natureza,
Uma obra das Tuas mãos?"

P´ra ti, cuja Luz já desponta

Aquariana-menina, és para Deus das mais especiais...
Ondina que caminhas vacilante fora do azul fluido,
Alcatraz em Terra que tropeças, no desequilíbrio envergonhado
Das tuas grandes asas só dignas de voos celestiais,

És, sim, para o Pai, entre suas filhas, das mais amadas!
Para o infinito coração paterno, em nós não há pecado,
Não há desobediência, nem descrença – tudo já foi perdoado!
Descobrirás que, mesmo nas tuas horas mais angustiadas,

Ou nas tuas maiores revoltas, em que te falta a coragem
De segurar a mão do Anjo da Guarda a reerguer-te do Abismo
Da tristeza e da amargura, não há acaso, nem fatalismo,
Pois Deus está sempre connosco em nossa romagem.

Parece-te que falhaste, que desperdiçaste tua vida?
Que não faz sentido permaneceres aqui neste penar?
Então não vês, nem sentes incansável e fiel a te guiar
Nesta aprendizagem, a mão carinhosa, mas decidida?

Deus é qual relojoeiro de sábia e paciente habilidade,
Que te vai concertando o ritmo quebrado do coração,
Prestes a te devolver o doce badalar de alegria e gratidão,
Confiante a te renovar o suave e sereno retinir da felicidade.

Desde sempre, permanece ao teu lado, nunca te condena,
És filha querida, especial e frágil tesouro ao divino coração,
Que tão-só tropeça e cai, por ainda ser Anjo em formação,
Criança conquistando seu equilíbrio na harmonia eterna.

Filha pródiga, vela sobre ti, por ordem do Pai amoroso,
Seu mais sábio e devotado Arcanjo, irmão protector
A te nortear com acerto os passos... Agora sereno instrutor,
Como tu, também ele foi, outrora, criado apenas menino...

Em silêncio, com fé em ti, alegria, paciência e compreensão,
Com amor e carinho, p´la voz divina da tua consciência,
Ou com a dor a redireccionar melhor tua vivência,
Deus jamais abdicará de ti e nunca largará tua mão!...

Nada do que possas fazer jamais aborrecerá quem te ama,
Nem é pecado a tua ainda fraqueza no seio da tempestade...
Na véspera de se tornar Anjo vitorioso a velar p´la Humanidade
Também Madalena descreu de Deus, do Amor e da Vida...

Porém, tal como no seu, também no teu coração magoado
Ainda permanece intacta, protegida p´la vigilância divina,
A centelha da esperança e vontade de amar e ser amada,
Não como o mundo diz que ama, cobrando e traindo,

Mas, sim, como tua alma sedenta nunca esqueceu,
Embora, algures, tenhas perdido a fé de, no mundo
E a ti destinado, te aguardar tal raro e valioso tesouro...
Em ti, querida, já reluz a humildade de quem venceu

A mentira do mundo, o orgulho dos ainda cegos...
Só te resta ter fé no quanto e muito és amada por Deus,
No quanto especial e desejada és p´los Anjos dos Céus,
No quanto, dos dois lados da Vida, tens amigos

Que confiam na tua coragem e vontade p´ra vencer,
Primeiro em ti, esse desamor e auto-destruição,
Depois, e já mais fácil, ao redor da tua mansão,
Os ignorantes e infelizes que não te querem crescer...

Porque não te amas? Porque te afogas na infelicidade?
Olha, repara!.. Em ti já transparece a pureza renovada
Dos sentimentos, que foste interiorizando, confrontada
Com o turbilhão contrario da revolta e da comodidade...

Não te envergonhes, nem feches teu sagrado coração...
Onde estiveres, mesmo escondida do mais puro Amor,
Ele te descobrirá, guiado p´la mão do Pai Criador,
Do qual nascemos, herdeiros da sua perfeição...

Deixa correr as lágrimas do teu pranto de saudade,
Deixa que teu arrependimento te liberte e reconduza
Ao regaço do Pai saudoso da filha amada e querida...
Deixa a Vida e o Amor te preencherem à saciedade!...

Olha!... Querida, eu tão-pouco tenho p´ra te dar...
Minha amizade, meu carinho, minha fraternidade
São tão-só o que carrego comigo, rumo à eternidade,
E, de bom grado, partilho contigo, se te pode amparar...

Serena tua alma e deixa tua Luz varrer as trevas...
Tens tanto em ti para clarear este triste mundo...
Olha!... Não vês?... Olha, melhor... Não estás só! Esperando,
Somos tantos, orando ao Pai, com fé nas tuas vitórias!...

(DV)
-
-
Escrevi este poema para uma amiga, já lá vão três anos, na esperança que lhe desse coragem e animo para se libertar do caminho incerto por onde um dia decidiu levar seus passos e seu coração. Por vezes a vida nos afasta, mas fica sempre o laço de amizade, que nunca se perde.
Hoje apeteceu-me publicá-lo aqui.
Um beijo com eterna amizade :)

16 março 2007

Alma querida


"Tantos olhos culpados afinal
Do Crime de não estarem no teu rosto"


(Inscrições - David Mourão-Ferreira )
-
-

Para ti, querida Alma, minha doce Eurydice...
És o meu sonho doce e infinito :)

Mais uma vez sobre o amor...


"Then I see you standing there
Wanting more from me
And all I can do is try
Then I see you standing there
I'm all I'll ever be
But all I can do is try

All of the moments that already passed
We'll try to go back and make them last
All of the things we want each other to be
We never will be
And that's wonderful, and that's life
And that's you, baby
This is me, baby
And we are, we are, we are,
We are free in our love"

Try - Nelly Furtado


Erramos tanto e passamos ao lado...
Só nos desilude o que deixamos que nos iluda...
Quando decidimos amar, escudamos nossa alegria contra a desilusão e a tristeza :)
Adoro esta canção, tão certa a letra e a música:
Nelly Furtado - Try (2)

Descalço

-
Vieram palestrar uns doutores esclarecidos,
Para na vida vencer e felicidade alcançar,
Sabedoria dos civilizados, dos bem-parecidos,
Essencial se cuide também do calçar.

Eu queria mesmo comprar uns sapatos...
Indicaram-me um centro comercial,
Ali na esquina, sim, a poucos metros,
Dei de cara com a convergência social.

Não, convergência não era; confusão,
Seria mais adequado, tanta gente reunida,
Mas tanta gente só, cuja preocupação
Era comprar algo que despertasse vida!

Tanto desespero, tanta frustração,
Gigantesco aquário de sons desafinados,
Como se vende bem, estes dias, a ilusão...
Mas para quê queria mesmo aqueles sapatos?

Sai dali, voltei feliz para meu lugar,
Que ideia de passeio ir até à Cidade!
Sou pescador, Príncipe-domador do mar,
Cujo extenso azul antecede a eternidade!

Flúi, em mim, a respiração da onda,
No seu inspirar e esvaziar junto à areia,
Alegrando-me, uníssono com a Vida,
Este horizonte pelo qual a liberdade anseia.

Caminho descalço, à chuva que abençoa,
Afastando a secura que ameaça a alma,
Sou grato à Terra, madrasta boa,
Caridoso berço a resgatar meu carma.

Solta-se a Noite, num último raio de luz
A cintilar sobre a imensidão marinha,
Num reflexo cambiante que a Lua seduz,
Eterna prometida do Sol, nunca rainha.

P´ra quê adormecer, se convite irrecusável
Me é endereçado da abobada lá de cima,
Presenteando-me com a sinfonia admirável
Das estrelas, num frémito de trajes de seda.

E quando por fim, agradecendo a Deus
Pela minha vida simples e abençoada,
Cedo a Morfeu, levado para longínquos céus,
Logo surge a saudade da praia abandonada!

É que, outrora, banhavam-se nestas ondas
As princesas do mar, sereias de feiticeiros cantos...
Quem sabe, de longa viagem em breve regressadas,
Não cuidariam de não ter eu uns sapatos!

(DV)
-
*
-
As melhores coisas são as mais simples, muitas vezes bem perto de nós e sem que lhes demos o devido valor até ficarmos sem elas... Então, na ausência, aprendemos a amá-las, até que voltem a nós, no dia certo, na hora que já as merecemos...
A vida é bela e sábia :)

The Cure - High

13 março 2007

O Sonho


Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria, ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

-Partimos. Vamos. Somos.


(Sebastião da Gama, Pelo Sonho é que Vamos)


Na eternidade, o que vamos fazer? Começar já a conquistar nossa felicidade e obtê-la o mais cedo possível, ou adiarmos para o dia de amanhã? Eu quero caminhar já, a passo largo e optimista, a caminho do céu, das estrelas... Quero ser feliz e vou ser! :))

As fontes


Um dia quebrarei todas as pontes
Que ligam o meu ser vivo e total,
À agitação do mundo irreal,
E calma subirei até às fontes.

Irei até às fontes onde mora
A plenitude, o límpido esplendor
Que me foi prometido em cada hora,
E na face incompleta do amor.

Irei beber a luz e o amanhecer
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um voo me atravessa,
E nela cumprirei todo o meu ser.

Dia do Mar - 1947
Sophia de Mello Breyner Andresen

Hoje, apetece-me sonhar com ideais e absolutos e o fim de todos os obstaculos à felicidade...

12 março 2007

A visita de um Anjo

De entre afins, amizades e amores,
Uma ausência ensombrece o meu olhar,
De brilho extinto pelo desencarnar
D´alva rosa, e torna cinzas as cores.

Ah! Saudosa claridade pura,
Virgem e incorrupta beleza
Da breve e fugidia ventura!
És agora apenas incerteza...

A paz, antes perdida na paixão,
Na carência, no frustrado desejo,
Ei-la serena, em doce festejo,
Que voltava na nobre emoção

Do reencontro da Alma amiga,
Nesses segundos de eternidade
Em que banida toda a maldade,
Revivia o Éden da era antiga.

Abençoada e farta fonte pura
Em deserto de afectos humanos,
Breve felicidade e findos planos,
Ilusório... Nada aqui perdura!

Eis a lição que sem piedade varreu
A alegria que o sorriso duma flor,
D´infinito e soberano valor,
Tão breve, na vida m´ofereceu...

Nestes dias frios, solitários,
À beira do tentador abismo
Dos quebrados ideais humanos,
Recordo o canto do teu riso,

A tua generosidade paciente,
Celebrando em fraterno viver
A dádiva do eterno nascente,
Que dessedenta quem lá for beber,

Da justiça e do amor divinos,
Não a humana, que sempre cobra
E exige, em desleais cálculos,
Apenas doando o que lhe sobra.

Saíste da estrada da vida,
Por até aos trinta não esperar,
Apressando a dor da despedida,
E este meu canto, de tardio despertar.

Poderia ter sido diferente o guião
De nossas vidas, tivesse eu despertado,
Agradecendo a eterna bênção
Do nosso reencontro predestinado?

Palavras, sentimentos ainda teimam,
Persistem viver na tua ausência!
Tantos que calei, agora me queimam,
Libertam ideais da sonolência!

Se desta vida já te despediste,
Qual delírio, ou loucura minha,
Me segreda que tão perto persiste
Por mim o carinho teu, Carlinha?

Do teu amor pressinto a chegada
(Saudade é elo de difícil quebrar…),
Abrindo dos Céus a porta pesada
(Quem te deu a chave?), me vens visitar.

É, ignorada, mas puro sentir,
Inesperada, mas desejada,
A tua presença a me transmitir,
Fé, ânimo, vontade renovada!

Reenviou-te o Senhor do Universo,
Meu Anjo afim, em alma de mulher,
A visitar meu mundo submerso
Na amnésia do humano éter,

Estrela, Anjo, Guia a me resgatar,
Um exilado, Peregrino do crer,
Com saudades do seu longínquo lar,
Desse mundo que outrora me viu nascer,

Da pátria em que regressaste só,
Descurando a mágoa que fosse ter,
A solidão onde mergulha sem dó,
O naufrago que teimo ainda ser.

Sorris perante minha rebeldia,
Ouvindo-me a desafiar a má sorte,
Uma taça d´infinita alegria
Num brinde à estúpida, falsa morte!

Tu sabes bem que a fé sempre renasce
Dessa mortalha que é descrença vã,
E para passar na terrena praxe
Preciso é coragem forte e sã,

E por isso voltaste junto de mim,
Até que eu perceba o segredo
Do renascer do anjo, esse fim
Glorioso do humano degredo.

O Reino dos Céus, só por violência
É conquistado? Eis grande mistério!
Como diz Jesus tão estranha sapiência,
Se o amor é o supremo império?

Ora, David, deixa me explicar:
Não basta ser bom, se podes ser perfeito,
Se para isso ao mundo foste voltar,
Precisas é limar o tal defeito

Que te impede ainda de voar…
Eis a tua hora, ainda que doa,
De enfrentar esse violento libertar!
Esse é o único caminho que soa,

Estreito, de espinhos e pedras,
Mas te reveste da túnica nupcial,
Perispírito puro! Tu medras
Quando não foges dessa dor crucial

Que é, enfim, renunciar à ilusão,
Da matéria quebrar o hábito!
Tens é certo que tomar a decisão
De te enfrentares a ti próprio,

Essa é do mestre a sapiência,
Do progredir o feliz mérito:
O Reino dos Céus, só por violência
É conquistado, não é mistério…

E eu estarei sempre ao teu lado,
Porque afins, amizades e amores,
Nenhum há que seja separado,
Em tais emoções de esplendores.

(DV)
Escrevi este poema em tempo para ti, minha querida amiga de cuja companhia alegre fui privado cedo demais... Ou talvez não, a vida é sábia e sabe o que nos convém... Hoje fazias 32 anos, e em jeito de parabens, e porque bem sabes que nao te esqueço onde quer que estejas agora, aqui fica o poema. Voltaremos a nos encontrar, eu sei :)
Um beijinho grande com muita amizade.
D.

10 março 2007

Tua voz inteira em mim


Tua voz de anjo transpôs a distância,
Veio no pôr-do-sol, serena e bela,
Vestindo seda e doce fragrância…
Tua voz, meu anjo, foi luz, foi estrela

Na minha noite cega p´la ausência
Do teu calor em meus braços, foi música
Na saudade da cor da tua essência,
Do riso da tua alegria lúdica…

Teu canto abraçou minh´Alma em carinho,
Em beijos caminhou até meu coração,
Onde tuas palavras fazem seu ninho,
E aí recusam nossa separação…

E eu que já desistira mais uma vez,
Na fé deste destino que me vencera,
Vi certo que o Deus sábio que tudo fez,
Nos ligou p´ra sempre de remota era…

Como foi linda, esta noite, tua alma!
Inteira em mim, como é isso possível?
Sonharei-te sempre assim, serena e calma,
E o nosso amor será invencível…

(DV)
-----
Este poema é para te ti, meu anjo, pela tua voz que te trouxe meiga e serena até junto de mim...
Lavaste-me a alma num banho de espuma bem cheirosa...
Adoro-te para lá do infinito e da eternidade... e ainda que... e mesmo se... tu sabes...
Obrigado pelas prendas da noite de quinta feira (e nem sequer era o meu dia, mas o teu), adorei :)
Beijo doce

Joss Stone - Super Duper Love

05 março 2007

Chama por mim...

Chama por mim, se um dia te sentires tão triste, que só consigas chorar...
não prometo que te direi para não chorares,
mas se não conseguir fazer-te sorrir, chorarei contigo...
Chama por mim, se um dia quiseres fugir...
não prometo que te direi para não ires,
mas se não conseguir convencer-te a ficar, partirei contigo....
Mesmo que um dia estejas tão triste que não queiras falar com ninguém,
ou tão desiludida e cansada que não queiras dar ouvidos a ninguém,
ainda assim chama por mim...
Prometo que se não conseguir fazer-te falar,
ficarei simplesmente contigo, bem quietinho,
e escutarei o teu silêncio....
Chama por mim, se um dia chegares a uma encruzilhada na tua vida...
Posso não saber te mostrar o caminho,
mas prometo que estarei a teu lado,
até tu própria o encontrares...
Chama por mim, sempre que precisares de mim,
tu bem sabes que eu irei sempre...
....e mesmo que o sempre não exista...
prometo-te que existirá sempre a eternidade!

E se um dia chamares por mim, e não obtiveres resposta,
vem tu ter comigo, meu doce amor...
pois posso ser eu a precisar de ti...
---
O original não é meu, mas reformulei um pouco, hoje está em exacta sintonia com o que sinto por ti... e o susto do teu silêncio, esta tarde, pensando que ias na estrada, hoje quase que me ia dando uma coisinha má, tu sabes o quanto te quero bem... Já me basta termos que ainda viver longe um do outro, nem te atrevas a me deixar sozinho neste mundo... :)

beijos doces de quem te ama para lá do infinito - vou ter que gritá-lo ao mundo inteiro para que todos saibam que o meu coração é só teu e parares de ter ciumes ;)


Garbage - Push It (2)